Meralgia Paresthetica
- Fisioterapeuta Fernando Padilha
- 7 de mar. de 2015
- 3 min de leitura

Uma paciente foi encaminhada para minha clínica com dores lombares e na lateral da coxa direita, estava afastada do seu trabalho como agente de trânsito. Após anamnese, identificou-se uma rotação na terceira vértebra lombar (L3) para a esquerda, com uma abertura pélvica a direita e sintomatologia apenas de queixa, todas voltadas para a dor. Os exames não demonstraram alteração fisiológica considerável na região, porém um exame eletroneumiográfico de 2014, diagnosticou um quadro de Meralgia Parestésica.
Dentro da anamnese cinética todos os movimentos e condições motoras estavam perfeitamente íntegros, não havia dificuldades de equilíbrio, força e sensibilidade preservados, sem alterações na coloração ou temperatura das regiões mencionadas pela paciente como dolorosas.
Essas dores eram referidas desde o momento em que acordava, e já a acompanhavam há mais de sete anos. Alguns fatores ambientais e sociais imperavam para destaque clínico, pois a paciente trabalha como agente de trânsito e permanece na posição ortostática, com vestimentas apertadas, por longos períodos, o que levou a alterações sintomáticas agravando o quadro clínico.
A musculatura afetada identificada como superprogramada conferem para iliopsoas, quadrado lombar, adutores, glúteos, com joelho valgo. Porém todas as alterações são muito mais significativas no lado direito da paciente, principalmente dos obturadores.
Para a já mencionada rotação de L3 a esquerda, comecei a estudar a região visceral da paciente, que relatou que teve problemas gastrointestinais por muito tempo. Poderia ser uma memória daquela região que levou em tempos anteriores a estas alterações sem esquecer que a lesão é crônica e ficou aguda devido as exigências laborais. Investiguei sobre a relação do período menstrual com relação ao aumento ou diminuição das dores mas a paciente nada referiu de imediato. Liberei as tensões miofasciais da região abdominal. Tentei de forma global tratar as tensões e uma possível causa para aquele comportamento de suas cadeias musculares.
A Meralgia Parestésica
A Meralgia Parestésica tem esse nome devido ao neurologista russo Wladimir Karlovich Roth com a junção das palavras gregas meros que significa coxa e algos referentes a algia. Sendo primeiramente descrita pelo alemão Martin Bernhardt em 1878, pode também ser encontrado estudos com a nomeclatura síndrome Bernhardt-Roth.
Ela se caracteriza pela parestesia e sensação de dor na região anterolateral da coxa, mas por se tratar de mononeuropatia compressiva do nervo cutâneo femoral lateral, não há comprometimento motor, nem fraqueza muscular ou alteração de reflexo. Isto porque o nervo cutâneo femoral é sensitivo.
Anatomicamente a saída do nervo cutâneo femoral lateral ocorre em L2, L3, portanto protusões discais nessas regiões podem ser associadas a causa da Meralgia, além disso um grande revés se encontra com a variação do trajeto do nervo quando passa pelo ligamento inguinal. Essa é outra região que merece constante atenção principalmente nos casos clínicos que não forem somados a lombalgia ou suspeita de protusão discal.
Os sintomas intensificam-se quando o paciente permanece em posturas que tensionam o nervo afetado, no caso em estudo, a extenção de quadril. Pode também durante a gravidez ocorrer os sintomas descritos. Seria uma alteração pélvica de pressão visceral?
Um exame eletromiográfico de 2014 identificou a lesão no nervo, porém os demais exames de imagem não identificaram lesões na região lombar. Poderia ser uma associação dos dois pontos? Teria um comprometimento superior e um inferior na região inguinal em seu trajeto?
Tratamento
Comecei o trabalho utilizando apenas liberação fascial, propriocepção corporal e posturas de todas as musculaturas encontradas. Foram passadas diversas orientações de como não sobrecarregar as áreas durante as atividades da vida diária. Após 3 sessões com estas atividades desenvolvidas a paciente não sentiu mais dores na lateral da coxa direita. A dor estava pontual na região lombar, sobre a L3.
Apenas no oitavo atendimento a paciente referiu uma queimação na região lateral da coxa, porém, foi no período menstrual e após o início do ciclo o episódio isolado não se repetiu. Desta forma pode-se correlacionar as alterações viscerais pélvicas com os episódios dolorosos, a liberação do tecido garantirá uma melhor resposta fisiológica frente as exigências de espaço da região visceral.
Encaminhei a paciente para o Pilates, com a Dra. Vivian Vasconcelos que desenvolve seu trabalho aqui na clínica e trabalhamos em conjunto, sem o objetivo de tratar a dor, mas para liberação das tensões corporais podendo entender a causa dessas alterações mioarticulares.
A paciente na oitava sessão retornou as atividades laborais e não referiu mais dores lombares, as intervenções tiveram um enorme sucesso frente ao desafio clínico que nos foi apresentado. A continuidade dessa condição dependerá da aplicação por parte da paciente de todas as orientações e exercícios que foram passados.
Considerações Finais
A patologia que a princípio se demonstrava de forma clara, teve uma reviravolta quando foi parcialmente alterada. A ausência de dor na região lateral demonstrou que poderia sim ter alguma tensão naquela região pélvica, região de ligamento inguinal, e a permanência da dor lombar demonstrou que uma alteração mais crônica em L3-L4, ou L3-L2, em conjunto com as alterações musculares, eram coadjuvantes ou cúmplices no processo apresentado.
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